terça-feira, 1 de outubro de 2013

Síndrome do pânico: Um transtorno que deve ser levado a sério


A síndrome do pânico ou transtorno do pânico  é, certamente, uma das causas mais freqüentes de procura a psiquiatras e psicoterapeutas.
Ao longo da evolução da espécie humana, o cérebro desenvolveu sistemas fundamentais para responder a perigos próximos ou distantes que levem à destruição imediata do organismo. O pânico resulta da hiperatividade desse sistema cerebral que foi desenhado para produzir respostas imediatas ao perigo iminente.
É uma enfermidade que se caracteriza por crises absolutamente inesperadas de medo e desespero, que fazem com que a pessoa tenha a impressão de que vai morrer.
Quem padece de síndrome do pânico sofre durante as crises e ainda mais nos intervalos entre uma e outra, pois não faz a menor idéia de quando elas ocorrerão novamente, gerando tamanha insegurança que a qualidade de vida do paciente fica seriamente comprometida.
Se não tratada, pode evoluir para uma série de fobias, limitando a liberdade do indivíduo e podendo enclausurá-lo em sua própria casa durante décadas.


Sintomas
     Segundo o Dr. Márcio Bernik, médico psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, os sintomas que o transtorno do pânico provocam são relativamente similares aos da ansiedade normal. “Mas o que caracteriza o pânico é a forma abrupta e inesperada que eles aparecem e o fato de a crise atingir o ápice em dez minutos. Na verdade, bastam 30 segundos para o indivíduo ser tomado inexplicavelmente por tremores, taquicardia, falta de ar, mal-estar na barriga ou no peito, sufocamento, tonturas, boca seca, sudorese abundante. Muitas vezes, tudo isso vem acompanhado da sensação de que algo trágico, como morte súbita ou enlouquecimento, está por acontecer. Nesses casos, é comum a pessoa ter uma reação comportamental de pânico e sair à procura de socorro. Aliás, a sala de espera dos prontos-socorros é um dos lugares onde o médico mais se depara com transtornos do pânico.”

Ansiedade antecipatória e agorafobia
     A síndrome do pânico ocorre duas vezes mais em mulheres do que em homens, sendo sua maior incidência entre os 18 e 35 anos. É estatisticamente mais freqüente em indivíduos que tenham algum familiar que apresente o quadro.
     A maioria dos pacientes tem a primeira crise entre 15 e 20 anos, desencadeada sem motivo aparente. Com o passar do tempo, as crises vão se repetindo de maneira aleatória. Não prever quando podem surgir novamente gera uma ansiedade chamada de antecipatória. A pessoa fica preocupada com o fato de que os sintomas possam aparecer numa situação para a qual não encontre saída nem ajuda, como dentro de elevadores, metrô, aviões, salas-de-espera de médicos e dentistas, congestionamentos de trânsito.
     Se reagir de forma a evitar esses lugares, desenvolverá uma segunda doença, a agorafobia, quadro fóbico que se caracteriza por fugir de situações nas quais uma crise de pânico possa representar perigo, causar embaraço ou a sensação de se estar preso numa armadilha. Geralmente, sofre-se mais pela agorafobia do que pelo pânico em si. É o medo do medo. Alguns pacientes, depois de duas ou três crises, praticamente ficam presos em casa e, nos casos mais graves, não conseguem sair sozinhos.
     A maioria das pessoas rapidamente desenvolve algum grau de limitação. Em geral, só conseguem ir trabalhar se puderem percorrer o mesmo caminho. Pegar um avião ou uma estrada congestionada num feriado é hipótese fora de cogitação.
     Outra característica da agorafobia é que, uma vez estabelecida, não constitui uma fase passageira da doença e não se cura sozinha. Além disso, as crises não desaparecem com a idade. Começam quando a pessoa é jovem e se manifestam até a idade madura.

Evolução
     O paciente típico é uma mulher, mas a doença também pode ocorrer com evolução e sintomas idênticos nos homens. Essa freqüência maior no sexo feminino é atribuída à sensibilização das estruturas cerebrais pela flutuação hormonal, visto que a incidência do pânico aumenta no período fértil da vida.
Geralmente, depois da primeira crise, ocorrem outras – duas a quatro por semana – que vêm e passam. A partir de então, num período que se estende de um até cinco anos, uma série de conseqüências começa a manifestar-se. A pessoa tranqüila de antes se torna tensa por dois motivos especiais: a expectativa da próxima e inesperada crise e, paradoxalmente, porque a tensão protege contra o pânico. Se antes possuía uma personalidade relaxada e autoconfiante, fica insegura e leva uma vida mais restrita por causa da agorafobia que pode se instalar.

Diagnóstico
     É fundamental verificar se o quadro do pânico é secundário a outras patologias. O hipertireoidismo, por exemplo, pode provocar sintomas muito parecidos com os das crises de pânico.
Uma vez afastadas essas possibilidades, é relativamente simples firmar o diagnóstico clínico do transtorno do pânico. Os sintomas são muito claros. Deve-se, ainda, tentar fazer uma análise funcional para estabelecer as limitações que a doença acarretou a fim de estimular uma melhora na qualidade de vida do paciente.

Tratamento
     Consiste em combinar os medicamentos e terapia comportamental. É mais eficiente, segundo o Dr. Márcio Bernik, pois é muito penoso para o paciente adotar um programa comportamental baseado na exposição a situações que provocam pânico, sistematicamente, de forma gradual e progressiva, até que ocorra a dessensibilização (tratamento que visa a introdução de doses preventivas, experimentais e/ou curativas da doença).
A terapia de exposição baseia-se na capacidade de o ser humano habituar-se ao estresse. É como se assistisse a um filme de terror 15 vezes. Na primeira vez, os cabelos ficam em pé. Na segunda, como já sabe o que vai rolar e que vai espirrar sangue no teto, a reação é menos intensa. Na última, o filme não desperta mais nenhuma resposta emocional. Todavia, os pacientes aceitam melhor o tratamento e melhoram mais depressa se simultaneamente tomarem antidepressivos, medicação que se torna obrigatória para os 60% daqueles que têm depressão associada ao pânico.

Duração
     Segundo o Dr. Márcio Bernik, deve ser mantido por seis meses no mínimo e idealmente por um ano. A melhora costuma ocorrer entre duas e quatro semanas, mas parece que as alterações biológicas demoram meses para desaparecer. Desse modo, se o tratamento for interrompido nos primeiros sinais de melhora, 80% dos pacientes vão sofrer recidiva (recaída na doença, quando já se entrava em convalescença) em quatro a seis semanas.
Com a sua experiência com pacientes com síndrome do pânico, ele lembra que um a cada três abandona o tratamento porque os efeitos colaterais aparecem no primeiro dia e a melhora, só duas ou três semanas depois. Há ainda a agravante de que as crises do pânico pioram nas primeiras 48 horas do tratamento com remédios. Ele procura manter os seus pacientes tomando remédio pelo menos por um ano, o tempo ideal para evitar uma recidiva precoce.
O pânico é mais recidivante do que a depressão. No entanto, o remédio que funcionou na primeira crise vai funcionar nas outras. De qualquer forma, é importante alertar os pacientes de que, em 80% dos casos, as crises podem voltar. Mas, se voltarem, os medicamentos serão os mesmos porque não induzem tolerância.

Atividade física e família
     Além de fazer bem para todo o mundo porque é excelente para o condicionamento cardiovascular, o exercício físico provoca algumas sensações semelhantes às da síndrome do pânico. O Dr. Márcio lembra que é impossível fazer um exercício físico vigoroso sem sentir taquicardia, sudorese, perna bamba. Por isso, não se pode diagnosticar transtorno do pânico se os sintomas ocorrerem após atividade física extenuante.
     Entretanto, experimentar essas sensações do pânico num contexto agradável, por exemplo, numa partida de vôlei ou num jogo de futebol, ajuda no processo de dessensibilização. Por isso, se não houver contra-indicações, exercícios físicos mais vigorosos representam uma forma de terapia de exposição às sensações internas que o pânico causa.
     Como todas as doenças psiquiátricas, o pânico não dá pintas vermelhas no rosto como o sarampo nem febre alta. Por isso, é de importância fundamental a conscientização da família. O mal-estar que o paciente experimenta num congestionamento é muito diferente do desconforto que qualquer um possa sentir. Por outro lado, o excesso de compreensão pode favorecer a esquiva fóbica e a pessoa não sai mais de casa nem para ir à padaria. Na verdade, a agorafobia cresce com os bons cuidados. A família deve incentivar a atividade do doente, mostrando-lhe a importância  de continuar indo à escola, ir ao clube, ir trabalhar e não pedir demissão, o que será melhor para sua auto-estima. “Repouso é bom para gripe. Para doenças crônicas como depressão e pânico, que muitas vezes a pessoa carrega pela vida afora, o pior é ficar em casa repousando. O certo é levar a vida o mais normal possível apesar das dificuldades”, alerta o psiquiatra.
Lúcia Nascimento

Fontes: Site oficial Dr. Dráuzio Varella. Disponível em: . Acesso em: outubro 2005.
Instituto de Gestalt-terapia e atendimento familiar. Disponível em: . Acesso em: outubro 2005.