quinta-feira, 14 de maio de 2015

Psicólogo sexólogo Paulo Bonança; Entrevista a Jornais

Entrevista a Jornais

Psicólogo sexólogo Paulo Bonança; Entrevista a Jornais




















Materia do Jornal Oglobo
Integra das 5 perguntas  respondidas pelo psicólogo e sexólogo Paulo Bonança
Titulo da matéria: 50 respostas sobre sexo que podem mudar sua vida na cama:

"Meu namorado não deve saber que tenho um vibrador"
Vibrador: objeto fálico que se configura como um dos melhores parceiros sexuais das mulheres. São grandes, potentes, satisfazem todo tipo de fantasia,  sempre dispostos a ação, disponíveis em qualquer casa do ramo, e felizmente não ejaculam precocemente. São verdadeiros atletas sexuais, de grande utilidade para  mulheres insatisfeitas sexualmente, e é claro, esta mulher insatisfeita nunca é  minha namorada. 

"Ele não vai entender se eu pedir que compre revistas de homens nus"
Mulheres: nós homens somos competitivos desde pequenos, nos ensinam a sê-lo, nunca brincamos de trocar fralda de bebe, nós jogamos futebol “coisa de macho, entende?”,  nos reunimos em bando uns contra outros, disputamos quem urina e ejacula mais longe, quem tem o pé e  pênis maior, enfim, aqui tamanho é documento, e a rivalidade impera. Mas jogamos limpo, competimos olho no olho e não foto por foto. Portanto, não me assuste com revistas de homens musculosos e bem dotados, já bastam os de carne e osso que enfrento no  dia a dia. Obs: se eu ceder, você me inclui entre  eles?

 "É melhor fingir orgasmo que deixa-lo frustrado"
Ao fingir o orgasmo a mulher  limita seu prazer, mente para ela mesma, não se reconhece como “sujeito de desejo e direitos”, perde a oportunidade de ser autêntica com suas necessidades e estabelece uma relação de desigualdade. O silêncio estabelece a noção de que tudo está bem, assume o papel da mulher/mãe protetora e compreensiva, mas a largo prazo pode se tornar vítima de seu orgasmo fingido. O companheiro que não a leva ao orgasmo hoje, pode não levá-la amanhã. Vale a pena arriscar?

"Todo homem gosta de comandar a transa"
Homens ... conhecedores dos segredos mais profundos do corpo e da alma feminina, aquele que com perfeição guia a mulher  pelo mapa do  prazer, do erotismo e da sedução. Salve os homens! Triste o destino dos homens, daquele que tudo sabe e tudo pode,  que conhece sem nunca ter aprendido, que aceita com resignação o pesado fardo de “comandar a transa”, de levar até o fim a farsa do “nasci sabendo”,  de ser competente, “expert” por natureza na arte de se responsabilizar pelo prazer alheio.

 " Se eu pedir que ele use uma fantasia vai achar que sou pervertida".
Uma das características inerentes ao ser humano é a capacidade de fantasiar, de buscar através da “teatralizaçâo” de uma situação a satisfação de um desejo. Atuar uma fantasia não nos coloca na situação de “perversos ou ridículos”, é o legítimo direito de buscar e alcançar  prazer sexual , sair da rotina, da monotonia, compartilhar com o parceiro a intimidade do seu mundo interno. Infelizmente as pessoas se inibem frente a esta possibilidade, se reprimem por medo de não serem compreendidas.
Jornal O GLOBO, REVISTA Nª 92 , 30 Abril 2006
Psicólogo e Sexólogo Paulo Bonança C.R.P. 05.30190


Materia do Jornal O Dia
Participação Paulo Bonança, psicólogo e sexólogo
A excitação e o prazer feminino
Rio - Saber o que excita a mulher na Hora H é o desejo de todo homem. E a resposta pode ser mais ampla do que acredita o Clube do Bolinha. Quer uma dica? Aposte nos filmes. Especialistas garantem que as mulheres respondem tanto quanto os homens aos estímulos visuais e, por isso, cenas românticas e eróticas podem ser uma boa arma para esquentar ainda mais o relacionamento.
É o caso da modelo e atriz Rhavine Chrispim, que interpreta a personagem Bárbara do programa pornô-soft ‘As Pegadoras’, do canal Multishow. “Aquele papo de que revistas, filmes e Internet são apenas excitação para homens, mudou. As mulheres do século 21 adoram assistir a uma boa cena erótica antes do sexo”, afirma. A bióloga Fabiana Avellar, 38 anos, concorda. “O filme pornô é direto demais, ou seja, muito óbvio para a mulher. O ideal é ver filmes em que aparece mais a fantasia com o sexo do que o ato em si”, sugere.
O psicólogo e sexólogo Paulo Bonança explica que a grande vantagem da mulher em relação ao homem é a flexibilidade para se interessar por uma novidade visual. “As mulheres são mais versáteis do que os homens. Elas respondem a estímulos sexuais diversos, sejam filmes, fotos, sons ou até mesmo sonhos. Elas sempre desejaram ter mais prazer, especialmente com filmes, mas não admitiam devido à repressão social interna e externa”, diz.
Pesquisa recente da Universidade Queen, do Canadá, mostra que a excitação feminina ocorre com mais variedades de cenas do que a do homem. O estudo reuniu 47 mulheres e 44 homens. Todos viram oito filmes curtos sobre sexo, enquanto seus órgãos genitais eram monitorados por sensores que mediam a ereção masculina e a lubrificação feminina. Foi constatado que mulheres se estimulam com uma gama muito variada de cenas. O estudo sugere que elas são mais flexíveis do que os homens em sua capacidade de se interessar. O universo sexual é rico.
Segundo o sexólogo Amaury Mendes Júnior, para os homens a excitação é voltada para algo específico: manter a ereção. Para as mulheres, o processo é muito mais diversificado. “O resultado, na prática, é que a mulher, se bem estimulada, pode ser capaz de ter vários orgasmos, enquanto o homem tem uma fase mais curta de estímulos sexuais”, afirma.
Artigo publicado Jornal o Dia, em 15.03.2009 Rio de Janeiro
Psicólogo e Sexólogo Paulo Bonança C.R.P. 05.30190


Materia do Jornal do Brasil
Participação: Psicólogo e sexólogo Paulo Bonança
Barebacking' cresce no Brasil e torna-se caso de saúde públical 

RIO - “Procuram-se HIVs”. Impresso em um caderno de classificados dos jornais das grandes metrópoles, o anúncio não passaria despercebido. Do ponto de vista conceitual, HIV é uma sigla que desperta interesse e hostilidade, fascínio e medo, compaixão e ódio. Estigmatizada até então como o acrônimo da morte, ela vem ganhando novos contornos etimológicos devido a um grupo de homens que praticam sexo com homens (os HSH), absolutamente crentes na teoria de que o vírus da Aids, se contraído numa relação sexual, pode trazer benefícios para seu cotidiano, libertando-o, de uma vez por todas, do uso do preservativo, aumentando o prazer, proporcionado uma liberdade só experimentada no auge da revolução sexual, na década de 70.

A teoria foi posta em prática. E tem nome: "barebacking" (derivado da palavra barebackers, usada em rodeios para designar os caubóis que montam a cavalo sem sela ou a pêlo). O termo ficou conhecido internacionalmente como uma gíria para o sexo sem camisinha, praticado de preferência em grupo, em festas fechadas, por homens sorodiscordantes (HIVs positivos e negativos).

“Coisa de macho”, garantem os adeptos. O movimento cresce no Brasil, de forma assustadora, e tornou-se uma questão de saúde pública e motivo de preocupação social. O Jornal do Brasil teve passe livre em dois desses encontros, batizados de bare party (festa bare).

É a primeira vez que um veículo de comunicação ingressa em reuniões nas quais o leitmotiv, ou fetiche, é praticar sexo com pessoas desconhecidas, que possam, acima de tudo, ser soropositivas. Às cegas, todos são guiados apenas pelo que sentem. E, para facilitar a comunicação, criaram um vocabulário próprio.

Festa da conversão :
As orgias são chamadas de conversion parties ou roleta-russa. Entre os convidados, há os bug chasers (caçadores de vírus), o HIV negativo, que se lança ao sexo sem camisinha, e os gift givers (presenteadores) , os soropositivos que se dispõem a contaminar um negativo. São esses os responsáveis por entregar o gift (presente), o vírus. Quem participa de encontros bare confirma: o prazer sem barreiras é o que importa. Quanto à Aids, eles não encaram mais a doença como mortal, porém crônica, com tratamento à base do coquetel. A contaminação, portanto, elimina o medo e apresenta uma perspectiva futura da naturalidade do contato pleno.
– Sou um barebacker assumido – dispara R. H., 31 anos, geógrafo e cientista social, com pós-graduação nas duas áreas.
– Eu odeio camisinha. Acho uma m... É terrível interromper o sexo para colocá-la. Acaba com o meu prazer. No mais, o bare, para mim, é um fetiche. Eu gosto, apesar de ter contraído o vírus da Aids numa festa. Mesmo assim, faria tudo de novo. Não me arrependo.
A declaração aterroriza, preocupa. E só mesmo ingressando no singular mundo dos barebackers para comprovar o que depoimentos, documentários, teses, livros e outros elementos que abordam o tema tentam desvendar ou explicar. Na maioria das vezes, não conseguem. O que se testemunha numa festa bare está além da imaginação humana, supera os delírios e o surrealismo de Fellini em obras como Satyricon, ultrapassa a sordidez e o ceticismo pasoliniano em Saló ou 120 dias de Sodoma. Não há limites. De verdade.

A constatação pôde ser feita em encontros programados para homens de grupos sociais distintos. Na Ipanema da bossa nova, de gente chique “pulverizada” de Dior, Prada, Gucci, Kenzo, Gaultier e Armani, a reunião começa às 22h num casarão de uma das mais movimentadas e conhecidas ruas do bairro.

A mansão, de três andares, é fechada especialmente para a ocasião. O décor é sofisticado. No primeiro pavimento, paredes brancas contrastam com sofás vermelhos. TVs de plasma 42' exibem clipes de Madonna, Beyoncé, Cher, Christina Aguilera ou filmes com astros e estrelas de Hollywood. As luminárias brancas rebatem a luz dicróica contra a parede, gerando clima de aconchego, e o bar, com bebidas importadas em sua maioria, está sempre livre. Ninguém fica sobre balcão. Não há tumulto. Claro, é uma festa para pessoas escolhidas a dedo, para poucos, no máximo 60 convidados, informados por e-mail.

Há regras, e elas são claras. É condição sine qua non ficar nu ou no, máximo, com uma toalha (cedida pela produção do evento) amarrada na cintura. Quem se recusa é convidado a se retirar. Outra exigência: o sexo tem de ser praticado nos ambientes comuns de convivência. Ou seja, nada de se trancar em banheiro, em cozinha, em quarto. Ali, todos estão para ver e serem vistos. E o ritual começa na entrada, quando os participantes tiram a roupa e guardam as peças em um armário, trancado com chave numerada. O funcionamento é semelhante ao de termas, masculinas ou femininas.

 
A medida, na verdade, serve para evitar a circulação com dinheiro e cartões de crédito. É precaução. Os que desejam consumir bebidas ou aperitivos, apenas transmitem ao barman o número assinalado na chave. Os itens são lançados no computador e, no fim da festa, a conta é paga no caixa. O mecanismo lembra o adotado por boates e bares do eixo Rio–São Paulo, com suas tradicionais cartelas de consumação mínima. Só que numa festa bare, a bebida ajuda, os petiscos “fortalecem”, mas não são peças-chave para o divertimento.

Circulando pelos outros andares, a prova: na sala de vídeo, um jovem de cerca de 20 anos se entrega ao prazer, cercado por três homens. Nenhum deles usa preservativo. A cena é chocante. O rodízio de papéis, durante o ato sexual, é comum nessas festas. Faz parte do jogo. O quarteto não frustra as expectativas dos voyeurs reunidos na porta da sala. Como “astros do sexo”, diante de câmeras e de uma equipe de produção, atuam com vontade em uma performance longa, nada convencional, sem limites. Quem se propõe a ficar sob os holofotes sabe o risco que corre.
Mas é a sensação de perceber a adrenalina disparar e o coração bater aceleradamente devido ao unsafe sex (sexo inseguro) sem pudores e em público que os impulsiona. Um deles podia ser gift giver e os outros bug chasers. Ou vice-versa. A probabilidade de o gift (o vírus) estar ali, entre eles, era grande. Ninguém se importava. Quando terminou a primeira das muitas rodadas de sexo, o boy toy lover (brinquedo sexual) do trio foi jogar paciência em um dos quatro computadores, com internet liberada, instalados no segundo andar.

– As pessoas perdem a noção do perigo em busca do prazer – explica Jorge Eurico Ribeiro, 40 anos, coordenador de Estudos Clínicos da Fiocruz. – E o conceito de barebacking se perdeu. Originária da Califórnia, a proposta é a de festas em que um ou mais participantes, sabidamente positivos, são convocados por um produtor para praticar sexo com os convidados sem o uso de preservativos. Todos têm ciência de que, na reunião, há portadores de HIV. O fetiche consiste exatamente na possibilidade de contrair ou não o vírus. Só que, atualmente, há quem acredite que as festas bare são simplesmente um evento para o sexo sem camisinha com participantes negativos, o que é um grande equívoco. Ribeiro analisa que os barebackers que não apresentam o raciocínio da conversão imaginam, de fato, que, uma vez soronegativos, se limitarem seus relacionamentos com pessoas igualmente soronegativas, estarão fora do risco. Definitivamente não estão.

Há o espaço de tempo de variável (conhecido como janela imunológica) em que um indivíduo já contaminado pelo HIV pode ter resultados de exames laboratoriais de soronegatividade, ou seja, resultados falso-negativos. Testes HIV não são tão matemáticos como se supõe. No Brasil, o obscuro universo do barebacking é pouco discutido publicamente por especialistas em sexualidade humana. Ainda não há estudo com precisão estatística sobre o número de praticantes, independente de orientação sexual. No entanto, os relatórios do Ministério da Saúde com dados de infectados pelo HIV, de 1980 a junho de 2008, dão a pista.
Os casos acumulados de Aids no país nesse período foram 506.499. Desses, 333.485 (66%) são homens e 172.995 (34%), mulheres. Em 2007, registraram- se 33.689 novos portadores. Homo, bi ou hetero, todos praticaram sexo sem camisinha. A irresponsabilidade tem preço. E alto. Dos cofres públicos do governo federal saem cerca de R$ 1 bilhão por ano para tratamento exclusivo de soropositivos. Um paciente consome de R$ 5.300 a R$ 26.700 por ano. Cerca de 20 mil pessoas infectadas iniciam tratamento com anti-retrovirais no país, anualmente.
– Sinceramente, não me preocupo com essa questão e nem me sinto culpado. Não estou nem aí em ser um ônus para o governo – enfatiza R. H.

O Federal Health Research (centro de pesquisas de saúde), órgão governamental americano, divulgou recentemente a informação de que muitos homens com comportamento homossexual, bem como agentes de prevenção contra o HIV, confirmaram que a prática de sexo inseguro está se tornando cada vez mais comum. Um estudo com 554 homens assumidamente homo ou bissexuais, residentes na Califórnia, apontou que 70% estavam familiarizados com o termo barebacking e que 14% já o haviam praticado, muitos em relacionamentos extraconjugais. De acordo com a pesquisa, dos homens HIV positivos que participaram do estudo, 22% declararam ser barebackers e 10% dos negativos também tinham feito sexo inseguro nos últimos dois anos. Não há informações sobre qual o número de pessoas em geral (homo, bi ou hetero) que pratica sexo inseguro nem sobre que motivos as levariam à auto-exposição.

Interesse dos jovens
Nas principais metrópoles, o fenômeno tem chamado a atenção de jovens. Comunidades sobre o tema se espalham por sites de relacionamento como o Orkut. No Rio e em São Paulo, a adesão ganha força. Na indústria pornô, os filmes bare são os mais procurados. No YouTube, as postagens com cenas de sexo sem o uso de preservativos lideram o ranking das mais assistidas. Muitos dos que não praticam ou não têm coragem para fazê-lo buscam o prazer lançando mão de DVDs ou de vídeos na internet. O conceito de barebacking se dissemina.
– Colocar-se frente à possibilidade de contágio do HIV por meio do barebacking traz motivações psicológicas que podem ir do sadismo ao masoquismo. A possibilidade de uma relação sexual mais livre, com maior contato íntimo e afetivo pode estar encobrindo um caráter suicida – avalia Paulo Bonança, sexólogo e psicólogo, membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana e da Associação Brasileira para o Estudo da Inadequação Sexual.

Risco assumido:
HIV positivo, o administrador T.W., 45 anos, ratifica a análise de Bonança. Para ele, os adeptos do movimento sabem os riscos da superexposição e, alguns, ressalta, desejam o contágio conscientemente:
– Quem pratica sexo sem preservativo não pode ser considerado ingênuo. Tenho um amigo casado com soropositivo. Ele pediu ao parceiro que o contaminasse. Disse que era por solidariedade, mas acho que é masoquismo.
As observações de Bonança e T.W. foram comprovadas pelo JB em outra festa com a mesma proposta. Dessa vez, na Zona Oeste, a mais de 60 km da reunião em Ipanema. O encontro, realizado mensalmente em um sítio, é batizado de Vale Tudo e está em sua 17ª edição. De sunga, de cueca ou nus, exigência para entrar, os participantes se divertem ao som de funk.

Dos inocentes à la Perlla aos proibidões, compostos pela “galera da comunidade”. Agora não há TVs de plasma, luz ambiente, bebidas ou petiscos sofisticados. Computador? Nem pensar. É uma zona praticamente rural. O bar improvisado oferece cerveja em latão, sopa de ervilha, salsichão na brasa, batata frita na hora e campari. O sexo, claro, também é praticado sem timidez.

Na varanda do casarão, na sala, nos quartos, na piscina, na grama. O produtor avisa, na entrada, que os preservativos estão disponíveis. Percebe-se o zelo pela prevenção. A maioria, no entanto, dispensa, sobretudo em se tratando de sexo oral.

As situações são muito parecidas com as da festa na Zona Sul. Geralmente, dois dão o sinal verde e, em poucos instantes, como num formigueiro, três, quatro, cinco ou dez estão reunidos em busca do prazer. Há um ano e meio, Igor (codinome de J.C., 42 anos, professor dos ensinos fundamental e médio) produz em sociedade com Renato (A.F, 40 anos, militar), a Vale Tudo. Garante que o encontro não incentiva o bare, é freqüentado só por maiores e que o uso de drogas é proibido. Esses são dois de cerca de 20 itens de uma espécie de manual enviado por e-mail aos convidados. Ainda está registrado na mensagem:
- Sexo liberal entre todos. A formação de casais ou grupinhos é censurada. Estamos numa orgia e não num consultório matrimonial.

– Menor, cocaína, ecstasy, crack, maconha ou qualquer outra droga são vetadas. Mas sempre há os que usam discretamente. Como posso controla

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Depressão pós-parto

É grande o número de mulheres que se queixa de certa tristeza e irritabilidade depois que dão à luz. A criança nasceu perfeita, com boa saúde, o pai está feliz, os avós também. Nada aconteceu de errado, elas voltam com o bebezinho para casa, onde tudo foi preparado para recebê-lo, mas são invadidas por uma espécie de melancolia que não sabem explicar. Se esse sentimento for passageiro e desaparecer em alguns dias, não há motivo para preocupação. Seu organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais nos últimos tempos que podem ter mexido com o sistema nervoso central.
Há mulheres, porém, em que a tristeza aparece algumas semanas depois do parto, vai ficando cada vez mais intensa a ponto de torná-las incapazes de exercer as mais simples tarefas do dia a dia, e elas passam a demonstrar apatia e desinteresse por tudo que as cerca.
Num passado não muito distante, esses sintomas não eram valorizados; ninguém falava em depressão pós-parto. Os transtornos de humor eram considerados traços da personalidade feminina. Sem diagnóstico nem tratamento adequado, ou a doença se resolvia espontaneamente ou tornava-se crônica.

DIFERENÇA ENTRE TRISTEZA E DEPRESSÃO PÓS-PARTO
Drauzio – Qual a diferença básica entre tristeza e depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – É importante estabelecer essa diferença. A tristeza pós-parto é quase fisiológica. Dependendo da estatística, de 50% a 80% das mulheres apresentam certa tristeza, certa disforia e irritabilidade que têm início em geral no terceiro dia depois do parto,  dura uma semana, dez, quinze dias no máximo, e desaparece espontaneamente. Já a depressão pós-parto começa algumas semanas depois do nascimento da criança e deixa a mulher incapacitada, com dificuldade de realizar as tarefas do dia a dia.

Drauzio – Existe explicação neurobioquímica para a depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – O pós-parto é um período de deficiência hormonal. Durante a gestação, o organismo da mulher esteve submetido a altas doses de hormônios e tanto o estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios. De repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai vertiginosamente, o que pode ser um fator importante no desencadeamento dos transtornos pós-parto. Mas esse não é o único fator. Todos os sintomas associados ao humor e às emoções são multideterminados, ou seja, não têm uma causa única. Portanto, não é só a deficiência hormonal que está envolvida tanto na tristeza pós-parto, quanto no quadro mais grave que é a depressão pós-parto.

Drauzio 
– Que fatores são esses?
Frederico Navas Demetrio – Mulher com história de depressão no passado, seja relacionada ou não com o parto, ou depressão durante a gravidez (quadro menos frequente, mas também possível) está mais sujeita a desenvolver transtornos depressivos. Alguns fatos, por exemplo gravidez não desejada ou não planejada, causam aumento do estresse ao longo da gestação e podem contribuir para o aparecimento do problema.

Drauzio –  Como você distingue a simples tristeza pós-parto de curta duração que passa  espontaneamente da depressão que precisa ser tratada adequadamente?
Frederico Navas Demetrio –. Diante de um paciente com palidez cutânea que reclama de fraqueza, o médico pede um hemograma que confirma o diagnóstico clínico de anemia. Em psiquiatria, não existem exames complementares para respaldar o diagnóstico, que depende basicamente dos sinais e sintomas que a pessoa apresenta, de como eles se manifestam ao longo do tempo e de sua intensidade. Outro conceito importante para distinguir a tristeza da depressão pós-parto é determinar se o transtorno é disfuncional, isto é, se interfere na vida do dia a dia.
DIAGNÓSTICO
Drauzio – Quando começam a aparecer os sintomas de tristeza?
Frederico Navas Demetrio – A tristeza pós-parto surge dois ou três dias depois de a mulher dar à luz, em cinco dias atinge o máximo e some em dez dias. A depressão instala-se lentamente; só de quatro a seis semanas depois do parto o quadro depressivo torna-se intenso. É uma doença que exige tratamento mais agressivo com medicamentos.
Por isso, se atendo uma mulher, uma semana depois de ter dado à luz, com os sinais clássicos de tristeza puerperal, que pode ter sido desencadeada até por privação do sono – às vezes, o bebê acorda muito à noite – e por mudanças hormonais, recomendo que espere um pouquinho, pois essa sensação desagradável poderá desaparecer em alguns dias sem deixar vestígios. Ao contrário, se os sintomas foram se instalando gradativamente ao longo de várias semanas e ficando piores a cada dia, ela pode estar desenvolvendo um quadro de depressão pós-parto.

Drauzio – Isso quer dizer que, num primeiro contato, é muito difícil estabelecer o diagnóstico com clareza.
Frederico Navas Demetrio – É difícil. Entretanto, se a moça deu à luz há mais de um mês e a tristeza continua intensa, é grande a probabilidade de estar com depressão pós-parto. Fechar o diagnóstico, porém, depende dos sintomas que apresenta e de como e quanto eles estão interferindo no seu dia a dia.

Drauzio – Com que frequência aparecem os casos de depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – Segundo revelam as estatísticas americanas, a depressão verdadeira, essa que surge várias semanas depois do parto e requer tratamento específico, acomete em torno de 10% a 15% das mulheres, o que é um número muito alto.

Drauzio – Essas mulheres recebem o diagnóstico de depressão quando manifestam os sintomas?
Frederico Navas Demetrio – Infelizmente, a maior parte dessas mulheres não fica sabendo que está deprimida e atribui os sintomas ao estresse, ou não tem suas queixas valorizadas pelo companheiro, nem pelo pediatra que atende a criança, nem pelo obstetra que acompanha o pós-natal. Como o início não é abrupto, o transtorno assume ares de algo fisiológico, sem importância, e elas não recebem o tratamento adequado. O resultado é que, às vezes, o quadro pode resolver espontaneamente, mas, em muitas outras, pode tornar-se crônico.


SINAIS DE ALERTA
Drauzio – Como a mulher que está se sentindo meio entristecida depois do parto pode perceber que aquilo é algo passageiro, ou sintoma de uma depressão mais grave?
Frederico Navas Demetrio – Para a mulher que deu à luz há poucos dias, é quase certo que os sintomas desaparecerão espontaneamente em duas ou três semanas. No entanto, aquelas que deram à luz há um mês, um mês e meio, e estão cada vez mais tristes, precisam prestar atenção em alguns sintomas fundamentais.
O primeiro é que a tristeza não está relacionada só com o nascimento da criança. Não está restrita ao fato de não se considerar boa mãe nem suficientemente capaz para cuidar do bebê. A tristeza permeia outros contextos de sua vida. A mulher deprimida perde o interesse pelo programa de televisão que gostava de ver, pelas leituras que lhe davam prazer, pela profissão. Às vezes, a licença-maternidade está chegando ao fim e ela pouco se importa com a perda do emprego se não reassumir o cargo.
Outros sintomas são a sonolência, a falta de energia durante o dia inteiro, o desinteresse pelo marido, o desejo sexual que não retorna e as alterações do apetite para mais e para menos. Algumas ficam famintas e comem muito. Outras nem podem chegar perto dos alimentos.
A ansiedade faz parte também do quadro de depressão pós-parto. A mulher tem ataques de pânico sem ser portadora desse transtorno ou pode desenvolver comportamentos obsessivos em relação à criança como agasalhá-la demais ou verificar a cada instante se ela está respirando.
Drauzio – Toda mulher faz isso quando tem um filho. Como saber se esse sintoma faz parte de um quadro patológico?
Frederico Navas Demetrio – Na depressão pós-parto, esse comportamento é exagerado e está associado a muita tristeza. Acima de tudo, o sofrimento é enorme e a pessoa está consumida pela sensação de fim de linha e de sua capacidade para sair daquela situação. De qualquer forma, repito, é sempre preciso considerar o conjunto dos sintomas para fechar o diagnóstico.
PREVALÊNCIA
Drauzio – A depressão pós-parto é mais frequente no nascimento do primeiro filho ou aparece também nas outras gestações?
Frederico Navas Demétrio – Depende dos antecedentes da mulher. Se ela teve depressão no pós-parto de um filho, a possibilidade de repetir o quadro em outra gestação é de 50%.
Na verdade, a recorrência da depressão é muito alta. Ela é considerada uma doença episódica recorrente e a tendência é manifestar-se novamente se repetida a situação em que surgiu pela primeira vez.
Drauzio – Mas isso acontece também com a depressão comum…
Frederico Navas Demetrio – Ocorre, sim. Em 50% dos casos, quem teve depressão uma vez vai repetir o quadro em algum momento da vida. Se ela se manifestou no período pós-parto, cerca de 30% das mulheres correm o risco de desenvolver a doença fora desse período.
Drauzio – A mulher que teve depressão na adolescência ou na vida adulta corre risco maior de desenvolver depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – O risco de depressão pós-parto é maior se a mulher desenvolveu um episódio depressivo anteriormente, mesmo que tenha sido tratada, ou se teve depressão durante a gravidez. Anos atrás, considerava-se que as doses elevadas de hormônios presentes durante a gestação protegiam a mulher. Hoje se sabe que não é bem assim. Mulher grávida também está sujeita a ter depressão. Como, muitas vezes, ela interrompe o tratamento temendo que a medicação possa prejudicar a criança, o risco de a doença agravar-se depois do parto aumenta muito.
TRATAMENTO

Drauzio – Há medicamentos para tratar a depressão seguros para o feto?
Frederico Navas Demétrio – Há medicamentos seguros. Tanto os mais antigos, os tricíclicos, quanto os mais modernos, como os inibidores de recaptura da serotonina, são seguros quer em termos de malformações quer como agentes neurocomportamentais, ou seja, não provocam malformações na criança nem alterações em seu comportamento. Acompanhados até a idade pré-escolar, os filhos de mulheres que engravidaram tomando esse tipo de medicação não mostraram nenhum transtorno comportamental.
Há alguns anos, o tratamento de escolha para a depressão durante a gravidez era o eletrochoque. Hoje, ele só é indicado  para casos muito graves, com risco de suicídio e que exigem resposta rápida.
Drauzio – Se tomados durante a fase de amamentação, esses remédios podem prejudicar a criança?
Frederico Navas Demetrio – Durante a gestação, esses medicamentos não interferem na formação da criança, porque dentro do útero ela não faz esforço respiratório. Depois que nasce, porém, seu efeito sedativo pode passar pelo leite e o perigo existe. Por isso, são indicados alguns antidepressivos específicos que passam menos para o leite materno e o esquema é discutido com a mulher. Uma das sugestões é desprezar o leite colhido algumas horas depois de tomada a medicação, aquele em que os componentes da droga estão mais concentrados, e oferecer o colhido mais tarde. Isso diminui a exposição da criança ao antidepressivo e permite utilizá-lo durante o aleitamento.
]Drauzio – O uso da medicação é sempre fundamental no tratamento da depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – É sempre fundamental. Embora algumas depressões desapareçam espontaneamente, uma porcentagem significativa se cronifica. E tem mais: se não for tratado, o episódio agudo pode deixar um resíduo que se confunde com a distimia, uma forma de depressão mais leve, crônica, que interfere na capacidade de raciocínio e no desempenho funcional. Muitas vezes, essa depressão contínua é considerada um traço da personalidade da mulher e nenhuma providencia efetiva é posta em prática.
Drauzio – A psicoterapia também ajuda a tratar da depressão?
Frederico Navas Demetrio – Como a depressão em geral tem múltiplos fatores determinantes, isto é, não é provocada só por condições biológicas, mas tem fatores sociais e familiares envolvidos, a psicoterapia individual ajuda a mulher a lidar melhor com o problema e a descobrir que tem um potencial que precisa ser estimulado.
Drauzio – Nos casos em que a depressão não é diagnosticada e evolui sem tratamento, há risco de suicídio?
Frederico Navas Demetrio – Embora localizada no período pós-parto, a depressão se comporta da mesma maneira que nas outras fases da vida, e o risco de suicídio existe. No caso específico da depressão pós-parto, a forte ligação entre mãe e filho acaba protegendo um pouco a mulher. Mas, se a evolução da doença for muito negativa e os sintomas se agravarem progressivamente, ela pode chegar à conclusão de que é realmente incapaz de cuidar da criança e, infelizmente, cometer suicídio.
Drauzio – Muita gente confunde depressão pós-parto com os casos de psicose em que a mãe agride e eventualmente mata o filho. Existe alguma relação entre essas duas doenças?
Frederico Navas Demetrio – Depressão pós-parto e psicose puerperal são quadros muito diferentes. Felizmente, os casos de psicose são raros. A prevalência é de um caso para cada cem mil nascimentos.
O início da psicose puerperal é precoce. Durante a primeira semana depois do parto, a mulher perde o contato com a realidade e começa a acreditar em coisas que não existem, a ouvir vozes, a ter a sensação de incorporações com entidades, delírios e crenças irracionais.
Às vezes, imagina possuir superpoderes e pode lesar a criança não intencionalmente, mas porque acha que pode voar e atira-se pela janela com o bebê no colo. Essa doença muito grave é bem diferente da depressão que começa várias semanas depois do parto e evolui gradativamente.
PERGUNTAS ENVIADAS POR E-MAIL
Paula Marcela – Umuarama/PR – Qual é a importância do ato de amamentar na prevenção da depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – O ato de amamentar é importante para a mãe e para a criança não só no sentido nutricional ou de transmitir anticorpos, mas também para fortalecer a ligação mãe-filho. O aleitamento materno deve ser estimulado, porque é bom para a mulher e para a criança e, eu diria, porque também é um fator de proteção social.
Agora, ao menos pelo que pôde ser detectado nas pesquisas até agora,  amamentar não traz nenhum acréscimo na proteção contra os quadros depressivos depois do parto.
Karina Anjos – Curitiba/PR – Em relação ao filho, o  que a mãe pode fazer quando está com depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – Felizmente, os casos de agressão intencional ao filho são bem pouco frequentes. O crime de infanticídio, previsto no Código Penal, ocorre em 4% das psicoses puerperais. A ligação mãe-filho é tão intensa que mesmo a mulher psicótica, sem contato com a realidade, em raríssimos casos mata a criança intencionalmente.
Isso não significa que a depressão materna não possa prejudicar a criança. Mulher deprimida cuida menos de si própria e, por tabela, cuida menos do bebê, estimula-o emocionalmente menos e tem menos interesse em amamentá-lo ou em brincar com ele.
Por isso, essas crianças acabam tendo um desenvolvimento neuropsicomotor mais lento, começam a falar e a andar mais tarde, o que não quer dizer que esse retardo no crescimento não possa ser compensado depois.
Às vezes, o desinteresse por tudo que a cerca chega a tal ponto, que ela deixa de dar as vacinas, mas a agressão ativa ocorre mais raramente, mesmo nos casos de psicose puerperal.
Pedrina da Rocha Leite Antonia – São Paulo/SP – Existem formas de prevenir a depressão pós-parto?
Frederico Navas Demetrio – Não há como evitar o primeiro episódio de depressão pós-parto. Podem desenvolver a doença mesmo mulheres sem antecedentes de depressão, que queriam engravidar e tiveram uma gestação sem complicações obstétricas e parto tranquilo.
No entanto, é preciso ficar de olho naquelas que já manifestaram quadros depressivos anteriormente, no pós-parto, fora dele ou durante a gravidez, porque a possibilidade de repetir o episódio existe, é grande, e quanto antes o tratamento for instituído, melhor.
Na prática clínica, já tive a oportunidade de acompanhar a gestação e o pós-parto de pacientes, mantendo contato primeiro com o obstetra e depois com o pediatra (às vezes, ele atende mais a mãe do que o bebê), para não deixar escapar nenhum indício do problema. Na verdade, a melhor forma de prevenir a doença é a intervenção precoce.

Fonte: http://drauziovarella.com.br/mulher-2/depressao-pos-parto-3/